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segunda-feira, 26 de março de 2012

Entrevista com Dr. Lewis Hsu

Dr. Lewis Hsu pesquisa há mais de 20 anos a anemia falciforme, é hematologista e pediatra do Centro Médico da Universidade de Illinois. Na entrevista, ele comenta sobre a colaboração mundial contra a doença, afirma ser a favor do transplante de medula óssea para a cura da anemia falciforme e cita o exemplo a não ser seguido: Miles Davis, trompetista de jazz americano que tinha a doença e manteve em segredo. Hsu realiza um experimento nos laboratórios do Hemocentro, junto aos pesquisadores do INCT do Sangue, com o objetivo de reduzir danos pulmonares em pacientes falciformes.


Como você vê a evolução das pesquisas sobre anemia falciforme?

Cada vez mais envolve um time de pessoas, não apenas hematologistas e especialistas na área do sangue, mas também pneumologistas e cardiologistas – para reunir todos os diferentes tipos de conhecimento para o problema, porque até agora os hematologistas não têm sido capazes de resolvê-lo. Há também cada vez mais colaboração internacional. As coisas descobertas em outros países podem rapidamente ser transmitidas para outros lugares, então cada vez mais as pesquisas feitas no aqui estão trazendo avanços para a área, então o Brasil não apenas aprende com os outros países, é na verdade uma troca.


Qual sua opinião sobre a participação do Brasil nas pesquisas sobre anemia falciforme, assim como os avanços da área de conhecimento sobre a doença?


Eu acho que o Brasil está contribuindo cada vez mais. Existem alguns aspectos em que o programa precisa obter mais experiência, mais organização, porém, de qualquer forma, muitas das pessoas que eu conheci aqui foram treinadas nos EUA, então elas sabem como as coisas funcionam, estão aptas para trazer exatamente este tipo de informação e usá-la com o maior número de pacientes, na saúde pública brasileira (que é mais organizada que nos EUA) e também novas maneiras de se pensar sobre os problemas.

Você é a favor do transplante de medula óssea?


Sim, completamente. Nós apenas não temos doadores o suficiente até agora. Quando eu estava em Atlanta (Georgia) e tivemos cerca de vinte e quatro crianças curadas de anemia falciforme por transplante de medula óssea, isso me deu uma visão muito favorável. Então, uma das coisas que eu tento fazer é escrever artigos, dar palestras à pacientes e grupos da comunidade e também usar sites da internet para que as pessoas tenham mais informação sobre transplante de medula óssea, que não é algo para todo mundo porque há alguns riscos envolvidos, mas também porque não há doadores o suficiente. Aqui no Brasil e em diversos lugares do mundo estão sendo feitos transplantes de medula óssea, e isso pode evoluir com melhores técnicas e mais segurança.

Há diferenças no tratamento da doença em diferentes partes do mundo, especialmente em países subdesenvolvidos, onde a doença é mais frequente?

Os países desenvolvidos, e também Brasil, têm basicamente o mesmo padrão. Já em países em desenvolvimento como no Oeste da África ou em partes da Índia, faltam muitas coisas básicas, como antibióticos, por exemplo. Então alguns dos procedimentos que são feitos aqui, testes de DNA ou sofisticados testes de proteína, não são possíveis para eles de maneira nenhuma. O que está acontecendo é uma parceria entre países: o Ministro da Saúde de Camarões, ou Angola, ou algum outro lugar, por exemplo, busca um parceiro para ajudar com a saída de materiais. Mas até agora muitas, muitas crianças ainda estão morrendo nos países em desenvolvimento, que têm a anemia falciforme, mas não têm o tratamento.

O que você acha que podemos fazer para melhorar a educação e conhecimentos sobre a anemia falciforme?

Uma das coisas, é que as pessoas têm que ser mais esclarecidas em relação à anemia falciforme. Para alguém que tem a anemia falciforme, essa pessoa tenta ser um educador para os outros ao seu redor, mas ás vezes é algo difícil de ser feito por causa do estigma de ter essa condição genética, então é aí que a educação pública e até individual sobre saúde ajuda. Nós estamos tentando usar sites da internet o máximo possível, e também elementos audiovisuais, celebridades, por exemplo, muitas pessoas não sabem que alguns famosos têm anemia falciforme, eles mantiveram em segredo, como, por exemplo, o trompetista de jazz Miles Davis. Ele teve anemia falciforme e manteve em segredo todo o tempo; viveu até os 60 anos, e algumas vezes ficava doente e não revelava o motivo, ele tinha que tomar remédios muito fortes, e às vezes até consumia drogas para tentar diminuir sua dor, por falta de conhecimento. Então devemos tentar trazer mais conhecimento para que as crianças mais novas tenham confiança para dizer “Sim, eu tenho anemia falciforme, e eu preciso de ajuda”.